Extração da Erva Baleeira
Com sua sabedoria, ela percorre os caminhos doloridos de nosso corpo e transmuta a sensação da dor.
Ana, vamos, né? As meninas querem chegar aí, conhecer a sua realidade. É possível ter uma experiência de extração de óleo essencial em grupo? - Assim me chegou o convite de Nina para uma vivência entre mulheres aqui em casa…
A História da Cheiro de Deus
e a Destição da Erva Baleeira
Oi pessoal... Me chamo Ana e, junto com meu companheiro, montamos o Laboratório Cheiro de Deus, na Fazenda Cachoeiras s/n - Boa Vista, Barra Alegre - Bom Jardim – RJ, onde moramos.
O começo com o mutirão
Um casal de amigos vieram morar aqui na roça e conheceram outras pessoas que tinham vindo morar aqui cujo objetivos conversavam: não usar agrotóxicos e plantar seu próprio alimento. Pessoas que querem estar mais próximo da educação dos seus filhos, que saíram da cidade grande por quererem um modo de vida mais simples. Assim nasceu a Liga Agro Florestal. O nome foi escolhido porque o movimento de ajuda mútua que começava ali "deu liga" para um grupo era totalmente diverso começar a se encontrar para colaborar um com o outro.
Marcamos um mutirão na casa de Tomé e Manu e, a partir daí, a gente começou a planejar os nossos Quintais, implementar os sistemas agroflorestais e afins (fizemos varanda, colocamos telhado e adaptamos o trabalho às necessidades do local). O Grupo ia se ajustando à necessidade de cada integrante, então, por exemplo, a Laura queria arrumar a lavanderia dela, queria fazer uma varandinha para lavanderia, aí, ao invés de contratar pedreiro, ela comprou os materiais e a turma chegou lá e botou a varandinha para o alto. Aqui em casa foi a mesma coisa: o carpinteiro veio montou toda a parte estrutural, faltando as telhas. Então, ao invés da gente trabalhar com plantio na mata, a gente foi fazer um mutirão de lavar telhas. Às vezes era um pretexto para encontrar e ficar junto e isso é um pouco da nossa história...
A Liga Agro Florestal
Ela surgiu no contexto da gente poder otimizar, apoiar e trocar entre nós os princípios da sintropia difundida por Ernst Götsch. Estamos localizados nos municípios de Nova Friburgo, Bom Jardim e Trajano de Moraes e, nesse sentido, a ideia era fortalecer esses Quintais agroflorestais.
A pessoa que recebe o mutirão é responsável por essa organização (alimentar e de plantio). Há também um padrinho ou uma madrinha, alguém que nos apoia no que a gente chama de desenho agroflorestal, apoia na produção para que aconteça o encontro: quantas mudas necessita, o que se deseja plantar, atividade com as crianças e por aí vai. Cada propriedade tem características próprias, seja de clima, relevo, temperatura. E na nossa roda também era possível realizar, além do plantio, a necessidade que cada propriedade tinha no momento.
A própria história da Cheiro de Deus se tornou possível pelas mulheres e pelos mutirões. As mulheres fazem parte essencial seja pela confiança seja pela coragem e entusiasmo. A primeira mulher que eu tive contato com destilações foi a Carla Emerick, minha vizinha. Ela tem a marca ‘’Alma Verde’’. Comecei a acompanhar os processos com ela aqui no sítio dela. Depois, eu fiz o curso no sítio da Graça Graça de Maria no Sana-RJ com a Ana e o índio e, após esse curso, eu mantive contato com a Ana e adquiri meu primeiro destilador além do que essa troca de sementes e de mudas se dá muito no universo da mulher a gente vai naquele quintal bonito que é cultivado por mulher abundante e compartilhado por natureza.
A primeira destilação feita aqui em casa foi do Manjericão plantado em mutirão pela liga agroflorestal. Uma reunião de pessoas com opiniões, curiosidades e apoio, desde o plantio à colheita.
Só existo por comunhão, coletivo e cooperação. Se pensarmos bem, quem não? Todos viemos da união de duas pessoas e recebemos na caminhada apoios de outras tantas, não é mesmo?
A construção do Espaço Físico Laboratório Espagírico Cheiro de Deus. Quando eu recebi a vidraria falei comigo mesma: - Meu Deus, eu preciso de um espaço para colocar esse tesouro. Meu companheiro Ian escreveu um projeto para o programa Rio rural e a gente construiu um pequeno galpão onde eu consegui trazer todo o Arsenal de óleos essenciais, manteigas, hidrolatos e embalagens para esse espaço. Esse espaço se tornou meu local sagrado, sempre que me lembro agradeço . Aqui eu também atendo com terapia e massoterapia.
Depois, a construção do laboratório. Inaugurado em 28 de agosto de 2020.
Meu presente de aniversário, 33 anos, idade crística, havia carregado minha cruz e ressurgia de mim mesma. Novos ares, novos rumos, outra Ana se inaugurava ali.
As destilações realizadas
As destilações estavam a todo vapor, temos mais de 30 plantas aromáticas abertas e outras muitas a desvendar uma grande oportunidade.
Passei por várias destilações internas, afim de sacar de mim o puro que esse projeto envolve e que eu não sabia. Assim surgiram a Experiência Aromática, montei a lojinha para apresentar a uma amiga - fiz parcerias para facilitar a utilização da aromaterapia, experimentei e aprendi.
Ainda muito timidamente tenho feito essas experiências sensoriais com o intuito de despertar a memória afetiva por meio da aromaterapia e tornar as pessoas leigas no assunto mais próximas a esse vasto universo. Tula e sua filha vieram para um chá em minha casa e para conhecer as produções e fui mostrando o nosso pequeno universo para ela.
Fazenda Monte Cristo e a RAMA - Rede de Agrofloresta Femininas
A fazenda Monte Cristo Agroflorestal é conduzida por Nina Celli e Guilherme Stutz e a RAMA -rede de mulheres agroflorestoras é um grupo autônomo surgido pela necessidade de construir um diálogo entre as mulheres que realizam agrofloresta, a fim de nos fortalecer.
O convite da Nina foi direto:
- Ana, vamos, né? As meninas querem chegar aí, conhecer a sua realidade. É possível ter uma experiência de extração de óleo essencial em grupo?
Como foi para você aceitar esse convite?
O primeiro pensamento que me veio foi da Erva Baleeira. Eu estava estudando. É uma planta nativa do Brasil que cresce espontaneamente em toda a costa do Brasil. Ela é conhecida pelos caiçaras por sua capacidade anti-inflamatória e por amenizar dores musculares. Também é utilizada como tempero.
Depois, me perguntei: O que gostaria que esse encontro fosse para mim?
Uma Vivência que conciliasse a Extração com Autocuidados, que era o que eu estava precisando no momento.
O motivo da escolha da Erva Baleeira foi também por eu sentir sua forte irradiação com a Falange dos pretos velhos.
E, a partir daí, foi uma correria danada! Uma mistura de resistência, preocupações, uma necessidade de sair da zona de conforto, um misto de vergonha...
Os preparos necessários
Convite aceito, a gente saiu correndo para poder organizar tudo... dar um jeito na "bagunça": realizamos a limpeza ao redor da área, organizamos os preparativos para a acolhida da meninas, providenciamos a limpeza do laboratório, visitei a planta a ser destilada (peço licença a planta para que ela me ofereça seus benefícios, me permito uma troca com ela, explico o que pretendo com seu fim e agradeço).
Conversei com Martina sobre a ajuda e as orientações necessárias. Martina além de minha sogra conhece muito dos plantios e plantou a Erva Baleeira que destilamos. Ela sempre me dá suporte quando solicito. Para a vivência ela pediu aos seus apoiadores que roçasse a área para podermos caminharmos em segurança no nosso sistema agroflorestal.
Eu gosto de conversar com as plantas. Pedir apoio, suporte e compreensão. Faz parte das minhas mandingas solicitar que elas me ofertem óleo em abundância.
Receberemos as participantes do projeto "Abelhas enramadas" dia 28 de abril às 07:30 da manhã.
O projeto Abelhas Enramadas foi aprovado pelo Fundo Elas e consistiu em apresentar distintas experiências em Agroflorestas para três jovens do norte/nordeste do país. Elas realizariam vivências em três regiões com Agrofloresta. O sitio de NIna e Guilherme foi o primeiro a receber as participantes.
No dia Proponho, como chegada, uma dança circular pela paz da terra e pela luz do sol.
Na sequência iniciamos o ritual de colheita e abertura da planta .
- Por que você a chama de erva preta-velha?
Escutei de uma colega de profissão que ela é essa entidade e me identifiquei! Ela é indicada para trabalhar com os velhinhos que são acometidos de dores e inflamações em geral. Tem outros nomes populares que falam disso. O aspecto dela também traz essa conexão. Ela nasce em solo arenoso e se adapta com facilidade a esse ambiente. Ela gosta do silêncio e é calejada.
Depois da colheita tomamos um café da manhã farto, aí viemos para cá (laboratório), fizemos a bater, e fomos conversando.
Aqui é uma escola onde aprendemos e fazemos ao mesmo tempo.
na nossa pedagoginga, vamos conversando com a Planta.. Há, mas o que que acontece? Pode misturar a planta, não pode? Cada um vem com as suas dúvidas e aí a gente vai construindo passo a passo.
Hora do almoço: a gente serviu uma feijoada. Eu fiquei nessa irradiação dos pretos velhos, aí teve a hora do almoço, feijoada. Pude saravar no paladar.
E aí começou a precipitação, gota a gota acontece a destilação..
Eu pedi cada mulher que pudesse cuidar do processo acompanhar aquele novo ser que nasce: o óleo essencial..
O processo de destilação da erva baleeira
Prosas e Versos
Poesia Coletiva feita na força da quinta essência da Erva Baleeira
Cheiro de casa de mãe
Café passado no bule
Feijão recém cozido.
Pés descalços na floresta
Cheiro de terra molhada
Banho de rio.
Uma almofada confortável
Uma coberta quentinha
Um escalda-pés
Um silêncio, um espaço
Interstícios sou a procura
a semente alada que voa
buscando um solo para se enraizar
e se transformar em alguma grande árvore frondosa
(para alguém me podar e prender minha alma no vidrinho)
Moradora da mata
banho de cachoeira,
vento na cara,
salgadinha de mar
aconchego.
Abraços gostosos
Risadas fuleiras
O silêncio que fala.
Impactante.
